Classificação:
Joy (Brie Larson, ótima) é uma jovem que vive em um pequeno quarto com seu filho Jack (Jacob Tremblay), de apenas 5 anos. O quarto, na verdade, é um cativeiro onde ela foi trancafiada pelo sequestrador, que é pai de Jack, e que a mantém ali para violenta-la. Porém, com a ajuda do menino ela bola um plano para finalmente deixar sua prisão. Contudo, os desafios vão além das quatro paredes que os cercam, e a readaptação se mostra tão difícil quanto a confinação.
Muitos diziam que o desafio de se levar O Quarto de Jack aos cinemas era grande demais para um diretor com pouca experiência como é o caso de Abrahamson, que antes só havia dirigido o ótimo (e estranho) Frank (2013). Porém, a sacada foi delegar à própria autora do livro, Emma Donoghue, a missão. E ela cumpre com êxito. O filme consegue se manter lírico mesmo em meio a situação áspera a que somos apresentados pois a roteirista soube explorar o ponto de vista de Jack e seu olhar inocente sobre tudo que o cerca. A primeira metade, a do confinamento é equilibrada por passagens angustiantes, que tendem a arrancar lágrimas mesmo, e outras que causam repulsa.
A sobriedade com que as ações são delineadas, sem apelar ao implausível, também é um ponto a se destacar. Não existe nenhuma situação limite, algo impactante para nos indicar a mudança de direção da história, as coisas acontecem com um teor de suspense elevado, mas nada que ultrapasse o senso de lógica. O direcionamento da câmera, em um ótimo trabalho de Danny Cohen, também alivia a barra, já que está mais interessado no comportamento de Jack em relação a tudo o que acontece do que na situação em si.
Na parte final, onde o verdadeiro desafio estar por vir, é que temos um show de todos os envolvidos na concepção do filme. A direção de Lenny Abrahamson transforma a narrativa do filme, que não perde seu teor melodramático, mas eleva a obscuridade, exaltando a dificuldade de Jack em se adaptar a uma nova existência, tendo de aprender quase tudo do zero, e de Joy, que não sabe como recuperar os anos que ficaram entre as quatro paredes do quarto em que viveu por anos. O diretor fez por merecer sua inesperada indicação ao Oscar de direção.
Brie Larson tem uma atuação ótima, mostrando uma sensatez absurda em um filme em que a qualquer momento penderia para o melodrama puro em simples. Além de saber passar credibilidade quando o espírito de sua personagem se mostra fragilizado ao encarar o mundo real novamente. Apesar de um tanto coadjuvante, seus inúmeros prêmios que recebeu e o (quase) certo Oscar são merecidos. Já Jacob Tremblay tem uma atuação excepcional, segurando inúmeras cenas apenas com um olhar, com uma segurança espetacular. Sua ausência no Oscar é , talvez, a maior injustiça desta edição.
Mesmo que não vença o Oscar de melhor filme no próximo dia 28 de fevereiro, O Quarto de Jack ao menos mostrou que sua vaga entre os finalistas é incontestável. Além disso, prova que existe espaço para dramalhões lacrimejantes no cinema atual, e que eles são bons de assistir. Desde que exista uma boa história que faça sua condição de existência especial.