Classificação:
O interessante de se ver A Travessia, além é claro de acompanhar Joseph Gordon-Levitt digitalmente dependurado centenas de metros do chão, é a forma cuidadosa como o roteiro, também assinado por Zemeckis, consegue capturar toda aura aventuresca do sonho de Philippe Petit, sem partir para o fantasioso demais. Sim, pode até parecer mentira, mas é uma história real, sendo assim, nenhum elemento pode extrapolar os limites que deixam o público impressionado pelo feito do protagonista.
Tanto que a trama não busca se apegar demais ao passado de Petit, nem em seus anseios mirins, o que existe no filme é apenas um rápido resumo até ele se tornar adulto e conhecer o fruto de seu maior êxito, as Torres Gêmeas. É nesse mote que tudo se desenrola, nos detalhes para que o plano siga em frente e dê certo. Há um certo excesso de zelo em se deixar todos os pormenores do plano bem claro ao espectador, o que pode fazê-lo se dispersar. Porém, em questão narrativa, tudo se encaixa de forma satisfatória, e com o auxílio da narração do personagem, consolida o tom documental que o diretor com certeza queria passar.
E é nessa condensação das ações que as mãos experientes de Zemeckis fazem a diferença. Acostumado em se utilizar de ferramentas tecnológicas em seus filmes, ainda que não sejam blockbusters (principalmente Forrest Gump – O Contador de Histórias, 1994), ele consegue recriar Petit em ação, seja a alguns centímetros ou a dezenas de metros do chão. A parte final com o equilibrista executando sua façanha tem um efeito visual tão espetacular que, na versão 3D, pode deixar o público com náuseas. É impossível perceber que se trata de um cenário criado digitalmente, mas aí, palmas para a ótima fotografia de Dariusz Wolski.
Tem de se tirar o chapéu também para Joseph Gordon-Levitt, que mesmo não estando realmente nas alturas se equilibrando em uma corda bamba, tem a dedicação de não deixar que seu personagem seja apenas um obcecado qualquer. Além disso, conta com um bom elenco de apoio para segurar o filme para que não descambe para o monótono, conseguindo o deixar ainda mais bem-humorado.
E com essa pegada cool, Robert Zemeckis consegue ser conciso em seu desafio, nem cai no marasmo documental em demasia, nem se empolga demais com os efeitos nauseantes da travessia. Conta uma história fantástica que deixa boquiaberto nem não a conhecia e aguça o imaginário de quem sabia do fato, mas não conseguia sentir um pouco da emoção do momento. Um desafio não tão surpreendente quanto o feito do Monsieur Petit, mas, com certeza, não é algo dispensável.