ACIMA DAS NUVENS | CRÍTICA

Acima das Nuvens
Acima das Nuvens

Antes mesmo de que qualquer elemento maravilhoso que compõe a estrutura de Acima das Nuvens, como suas locações deslumbrantes em Sils Maria, na Suíça, e a metalinguagem sensível, temos de enfatizar a belíssima homenagem de Olivier Assayas às mulheres. Suas dúvidas, crises e as variadas características de sua psique são explanadas, tendo como o mundo das arte cênicas como painel ilustrativo. Tudo isso em um roteiro verborrágico, categórico, que aproveita ao máximo as características das três atrizes que formam o elo principal do filme.

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Maria Enders (Juliette Binoche) é uma atriz veterana de muito sucesso excêntrica e que rejeita as ferramentas contemporâneas como a internet. Sua assistente, Valentine (Kristen Stewart), tem uma visão diferente de Enders, e acha que ela deveria se ater ao mundo atual e às novas formas de se fazer arte. Quando surge a oportunidade de Maria reencenar a mesma peça que a elevou ao estrelato, só que no papel da mulher mais velha que se envolvia com a mais jovem (a qual interpretou), ela começa a passar por uma crise de identidade, onde terá de aprender a aceitar o tempo de sua vida e de sua arte.

O filme é uma obra inteiramente autoral de Olivier Assayas, onde todos os mecanismos que acompanham seu cinema, desde Horas de Verão (2007), também com sua amiga Juliette Binoche. A própria sugeriu que ele escrevesse o roteiro de Acima das Nuvens, só que, ao invés de ficar preso em uma simples análise dos efeitos do tempo sobre a vida e a arte de uma mulher, o diretor nos envolve em um estudo de comportamento intimista, e decompõe a personagem de Binoche em três, sendo que Stewart e Chloe Grace-Moretz, que interpreta a jovem atriz que fará seu antigo papel, parte de seu inteiro.

Mas, isso tudo nos é entregue no melhor estilo de cinema subjetivo, com metáforas textuais e visuais nos passando aquilo que nossos ouvidos sozinhos não são capazes de captar. Tanto o fenômeno natural de “Maloje Snake”, quanto os ensaios pra lá de ambíguos de Maria e Valentine. É uma simbiose artística, uma eclosão de sentimentos, cada vez mais claustrofóbicos, agoniantes, inebriantes. E própria relação entre patroa e empregada se homogeniza com a trama da peça a que participa pela segunda vez, com as mesmas dúvidas da Helena que interpreta, e a mesma tensão sexual cada vez mais crescente entre elas.

E graças a grandes atuações de Binoche e Stewart (que nem de longe lembra a inexpressiva protagonista de Crepúsculo) isso é possível. Uma completa a outra e a mesma química que envolve suas personagens são compreendidas pelas atrizes que inundam a tela dos mais variados sentimentos. Ainda tem a promissora Chloe Moretz, que condensa de forma brilhante a figura hollywoodiana e como a espetacularização da vida dos “astros” do cinema mantèm efigies da velha guarda, como a própria Enders, longe de blockbusters.

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Talvez essa categorização de um assunto tão delicado possa afastar àqueles não acostumados à vanguarda que se utilizava de ferramentas este tipo, tais quais Ingmar Bergman, Andrei Tarkovisky e Federico Fellini, porém isso em nada diminui o brilho e a exuberância da obra de Assayas. Um filme feito para ser analisado por tudo o que se vê em relação à mulher e sua relação com o tempo, desejo e os novos tempos, e também contemplado, pois o deleito que as metáforas visuais de Sils Maria nos proporciona são espetaculares.

Classificação:
Excelente

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