“Sex and the City” (HBO, 1998) revolucionou o modo de ser mulher na televisão norte-americana. Com personagens fortes, independentes e decididas, as quatro amigas, já na casa dos seus 30 anos, trouxeram ao público a parte sofisticada de Nova York e da moda da big apple. A série terminou em 2004 e oito anos mais tarde a HBO lançou, o que foi chamado por muitos, da versão mais nova de “Sex and the City”, “Girls”.
Escrita e estrelada por Lena Dunham, a série tem um roteiro inteligente, bons personagens, várias menções a cultura pop e uma nova visão sobre Nova York. Agora a cidade é dominada por jovens recém saídos da faculdade, perdidos e em busca de trabalho, sucesso e autoconhecimento. Tudo isso rodeado por romances catastróficos e um pouco de drama inerente aos 20 poucos anos. “Girls” foi muito bem recebida pela crítica e parecia impecável. Até a 3ª temporada.
Na trama da 3ª temporada, no centro das atenções está Hannah Horvath (Dunham) e o seu mix de ansiedades, inseguranças e incertezas, à medida que chega aos 20 e poucos anos de idade. Hannah está agora comprometida em um relacionamento com Adam (Adam Driver) e os dois estão se estabelecendo em uma nova vida doméstica no apartamento de Hannah. Além disso, ela também está trabalhando na reabilitação de sua carreira de escritora e se concentrando na preparação do seu e-Book para ser entregue ao seu excêntrico editor. Enquanto isso, Marnie (Allison Williams) está se ajustando a uma vida após a repentina e traumática separação de Charlie (Christopher Abbott) e meticulosamente se esforçando para conquistar a vida que ela acredita merecer. Perto da formatura, Shoshanna (Zosia Mamet), agora solteira, elabora um plano para criar um equilíbrio saudável (pelo menos na teoria) entre as baladas e os estudos. E, continuando sua tendência de perturbar a vida das pessoas ao seu redor, Jessa (Jemima Kirke) reaparece e inicia uma ambígua amizade com uma figura paterna extravagante. E claro, como sempre, amor, vida, sexo e morte podem interromper o caminho tortuoso até a idade adulta que chegará quando você estiver menos preparado.
Se a 2ª temporada pecou por falta de desenvolvimento de alguns plots e personagens pouco aproveitados, a 3ª errou ao transformar a Hannah em uma pessoa ainda mais mesquinha, pedante e egoísta do que já era antes. Calma, vamos recapitular. Nos últimos episódios da temporada anterior, descobrimos que Hannah sofria de transtorno obsessivo compulsivo (TOC) e, por causa da doença e outros motivos, teve um colapso. Também vimos Marnie tentar investir na carreira da cantora, se perder em relacionamentos avulsos, até reencontrar Charlie. Jessa foi completamente esquecida e Shoshonna saiu da áurea de boa aluna, para curtir livin’ la vida loca, terminando seu relacionamento estranho, porém adorável, com Ray (Alex Karpovsky).
Nos primeiros episódios descobrimos o que aconteceu com cada uma: Hannah voltou a se tratar e está focada no e-book; Marnie ficou sem teto e sem emprego; Jessa foi parar na reabilitação; e Shoshonna quer recuperar o tempo perdido na faculdade. Todo o cenário parecia interessante para que uma boa abordagem fosse feita na série. Exatamente, parecia. Em cada minuto de cada episódio, a personagem de Lena Dunham se transforma em um monstro. As outras garotas são jogadas mais ainda para o segundo plano e, novamente, várias histórias não são aproveitadas.
É difícil se envolver com alguma série quando a personagem principal não transmite simpatia. Assistir a 3ª temporada de “Girls” foi quase uma tortura. Por favor, não interpretem a minha crítica como se eu não gostasse da série. Eu gosto. Ela ainda continua esperta e inteligente, mas a Hannah se transformou naquele tipo de pessoa da vida real que você detesta. No 7º episódio da temporada, “Beach House”, Pal (Danny Strong) diz para Elijah (Andrew Rennells) sobre Hannah: “Ela é a garota mais ridícula que eu já conheci”. E é basicamente por aí.
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